terça-feira, setembro 14, 2010

Um sangue viscoso e laranja

Então, este é o texto que foi indicado para o Festival de Arte e Cultura (boa sorte para mim e tomara que em Brasília eu já esteja).

Um sangue viscoso e Laranja

Soa a sirene... O turno acabou.
Ando desesperado, tremendamente apressado para chegar em casa.
Como dói a labuta do pão-nosso de cada dia.
E por falar em pão, tudo que agora quero é um pão.
Pão-cheiroso, pão-gostoso, pão-mineiro, pão-de-queijo!
A boca saliva na espera desse doce aquecimento.
Tudo em vão.
Abro a porta.
Meus olhos não querem crê no que vê.
Meu Deus! Lá está ela chorando lágrimas de sangue.
Como? Por quê? Queria eu saber.
É tudo muito estranho ...
Um sangue viscoso e laranja desce como cachoeira viva.
Quanta angústia.
Quero logo saber o que se passa, e de maneira sem graça pergunto:
- Que aconteceu minha querida?
Nem o silêncio responde.
Posso ouvir até o barulho das lágrimas, mas tudo permanece em completo silêncio.
Entro então em completo desespero.
Onde estou afinal? Em casa? Em um bosque?
Trepida loucura!
Onde está você agora minha querida... Não a vejo mais....
Sinto, porém suas lágrimas de sangue sobre o meu corpo.
Vejo tudo imantando em mim. O sangue que corre na pele escoa veias adentro.
Mágica simbiose.
E pela primeira vez me sinto inteiro: corpo e alma.
Vou me desfazendo, espalhando pelo chão esse novo ser, vitalizado.
Despedaçando, instilando desejos e sonhos para que nasça novamente, entre um turno e outro, um novo sangue viscoso e laranja.
Ah! A cor púrpura é meu bem querer.
Até amanhã.

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