As portas do quarto branco do hospital se abriram, com o vento leve, mas envolto de uma áurea maior. O seu vulto luminoso atravessou a porta, olhou de ultimo relance para mim e sorriu, enquanto eu sentia todos os meus sonhos petrificando, congelando, para assim eu sempre tê-la nos meus pensamentos. Pois era simples entender, nós eternamente estivemos e estaremos um do lado do outro.
De lembranças não sou muito bom, tanto que não lembro nem data e hora marcada do nosso primeiro encontro, apenas tenho na minha cabeça imagens misturadas, cheias de sonhos e acontecimentos reais, nunca consegui extinguir com clareza o que era e o que não era recordação real. Contudo lembro que era uma tarde, clara, clara, iluminada não podia estar mais, as nuvens estavam brincando umas com as outras, passarinhos cantarolavam uma música engraçada e agradecendo isso a eles eu sorria. No meio desta paisagem linda vi de longe uma coisa ainda mais graciosa, uma moça altiva, com vestido vistoso e leve, nova. Olhei mais âmago para ela, escolhi um banco onde poderia fixar meus olhos nela, e passei admira – lá. Logo ela percebeu - acho que quando duas almas se encontram, elas imediatamente percebem se vão dar certo ou não, com certeza devem ir pelo cheiro, pois o cheiro dela era delicioso- sentou junto a mim, com um sorriso graciosíssimo na cara, que fazia uma junção perfeita com os seus olhos brilhantes e pequenos. Ficamos neste estado de transe durante um bom tempo, até que chegaram muitas borboletas que começaram a nós levantar, estávamos mais leves, éramos plumas. E assim fomos subindo, subindo, subimos tão alto que nas nuvens que eram feitas de algodão estávamos. Depois de um longo tempo também, caímos na minha cama, lá nossos cheiros se misturavam, os pés macios se entrelaçavam e acariciavam uns aos outros.
Sem explicação, de modo inesperado começamos a precisar um do outro. Gostávamos tanto do modo plural que éramos, que explosões nos nossos corações eram normais, que sorrisos tímidos apareciam ao descobrir coisas misteriosas um dos outros, eu não chorava, ela escondia deixado da cama por ter medo de monstros, na verdade nem eu nem ela já tínhamos visto algum monstro, mas como ela dizia se chegasse a aparecer, nós pelo menos estaríamos protegidos debaixo da cama.
Muitas pessoas nos chamavam de loucos, inclusive e principalmente meu pai que não suportava nos ver juntos, soltava sempre palavras grossas no ar quando chegávamos nós dois (eu e ela), mas que culpa tinha eu de não ser como ele queria? Desde pequeno ele me afastava de perto dele, falava que não tinha tempo para minhas bobagens, que era doido da pedra, e com isso vivia gritando comigo, e eu chorava, até que vinha minha mãe dizendo: chora baixinho meu filho, não estressa seu pai, e cada dia eu ia aprendendo a chorar mais baixinho, enfim não chorar mais. Lembro também que quando tinha uns 17 anos minha mãe falou que ia me levar para um lugar onde cuidariam direito de mim, às vezes eles gritam como o meu pai, porem o lugar é agradável, tem pássaros, arvores, por fim normalmente tudo muito tranqüilo, sem contar que foi aqui que a encontrei.
Junto a ela, fui feliz, sou ainda por que a tenho na minha cabeça. Porem ela ficou com uma doença, não conseguo também lembrar o nome da que tirou ela de mim. Nunca a deixei de lado, essa doença trouxe tantos momentos difíceis; pessoas vestidas de branco ficavam ao redor dela, seus olhos não paravam de lagrimejar, pediam que eu fosse com ela para onde iria, e eu respondendo-a falava que iria e que um dia novamente estaríamos no mesmo lugar, no mesmo plano. Pela primeira vez vi que talvez durante um tempo ela não estaria ao meu lado. Os meses foram indo, e ela só piorando, enquanto eu sentia também a dor dela, mas um dia ela sorriu, sorriu novamente como o mesmo sorriso que tinha quando a encontrei pela primeira vez, fechou os olhos, e o seu vulto luminoso atravessou a porta, sorrindo para mim, enquanto eu ia sentindo todos os meus sonhos se congelando para ela ficar sempre perto de mim.